Más condições de vida podem favorecer transtornos, diz estudo
Matéria: CETAD Observa
Imagens de SP: Roger Wollstadt
A violência urbana, o estresse e a desigualdade social são alguns dos fatores que contribuem para o aumento de casos de transtornos mentais nas grandes cidades do mundo, como é o caso da região metropolitana de São Paulo, cuja taxa de prevalência é de 30%, a maior entre os 24 países estudados para a Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, da OMS.
Em São Paulo, a
pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica da USP, sob coordenação da professora Laura Helena Andrade, com o objetivo de viabilizar novas estratégias locais de prevenção e tratamento, além de auxiliar no planejamento de serviços de saúde que contemplem as demandas de atenção da população.
De acordo com o estudo divulgado no mês passado, foram entrevistados 5.037 habitantes da Região Metropolitana de São Paulo, em um período de 12 meses, através do CIDI (Composite International Diagnostic Interview), instrumento desenvolvido pela OMS para o estudo global, obedecendo os critérios e definições do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) e da Classificação CID-10 de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID-10).
Transtornos de Ansiedade e de Humor
O CIDI permite o diagnóstico de distúrbios como transtorno de ansiedade, transtornos de humor, além de problemas relativos a comportamentos impulsivos e ao uso indevido de substâncias psicoativas. No estudo em São Paulo, foram identificados com maior frequência distúrbios relacionados a transtornos de ansiedade (19,9%), transtornos de humor (11%), controle dos impulsos (4,3%) e transtornos relacionados ao uso de substâncias (3,6%).
Além dos resultados, no entanto, o estudo alerta para os fatores sociais que contribuem para o desencandeamento destes transtornos. O grupo analisou os aspectos sociodemográficos, como o tempo de residência na zona urbana, a exposição à violência e a privação social em zonas de moradia.
Estresse, Violência e Privação Social
Para a
Agência FAPESP, a coordenadora da pesquisa explicou como estes fatores interferem na manifestação e agravamento dos transtornos. "“As pessoas que moram em áreas precárias apresentam quadros mais graves e tendência ao abuso de substâncias. As que tiveram mais exposição à vida urbana têm mais transtornos de controle e impulso – em especial o transtorno explosivo intermitente, que é típico de situações de estresse no trânsito, por exemplo”, afirmou Laura Andrade.
A exposição à violência foi o aspecto que influenciou nos quatro tipos de trasntornos, enquanto que, entre a população migrante - ou seja, com menor influência dos aspectos urbanos ao longo da vida - foram identificados as menores taxas de prevalência de distúrbios.
Necessidade de Cuidados em Saúde
Do total de entrevistados, apenas um terço estava em tratamento no ano anterior à aplicação do questionário. Este dado, associado à elevada taxa de prevalência de transtornos mentais em São Paulo (se comparado aos demais países pesquisados) reforçam a necessidade de mais investimentos públicos e articulação de uma rede primária para atenção em saúde mental e promoção da saúde.
De acordo com a pesquisa, esta estratégia pode ser utilizada por países em desenvolvimento, com poucos recursos e bastante populosa. “Não é possível ter um serviço especializado em todas as unidades, por isso é preciso equipar a rede com pacotes de diagnóstico e de conduta a serem utilizados pelos profissionais de cuidados primários. É preciso capacitar não só os médicos, mas também os agentes comunitários, que devem ser orientados para identificar casos não tão comuns como os quadros psicóticos, levando em conta os fatores de risco associados aos transtornos mentais”, afirmou Andrade para a Agência FAPESP.