Trajetória dos adolescentes usuários de drogas em um serviço especializado: do primeiro uso ao tratamento
por VASTERS, Gabriela Pereira em
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O uso de drogas na adolescência é uma questão debatida nas diferentes esferas da sociedade devido aos prejuízos que ocasionados precocemente. No tratamento especializado, essa questão torna-se ainda mais complexa e desafiadora frente aos fatores intrínsecos e extrínsecos do adolescente. O estudo tem como objetivo conhecer a trajetória dos adolescentes em um tratamento para uso de drogas, desde a primeira experimentação às percepções sobre o tratamento. Baseando-se na pesquisa qualitativa, buscou-se a compreensão dos atos e comportamentos dos sujeitos ao priorizar o ponto de vista dos mesmos. A coleta de dados ocorreu por meio de um roteiro semiestruturado de entrevista. Os adolescentes sujeitos do estudo pertenciam ou já haviam abandonado o Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas II em Ribeirão Preto-SP. Analisaram-se os dados por meio da categorização temática do conteúdo. Quatorze adolescentes foram sujeitos do estudo, sendo oito participantes do tratamento e seis que o haviam abandonado, predominante do sexo masculino com idade entre 14 e 19 anos. A maioria apresentou-se abaixo do ano escolar adequado às suas idades. A maconha foi a droga mais utilizada. Os adolescentes que abandonaram o tratamento fizeram maior experimentação de outras drogas em relação aos que estavam em tratamento. A rede de relações composta por outros usuários de drogas mostrou-se muito influente ao uso da droga, à experimentação, como fator que aumentava vontade/ intensidade do uso e como motivo para o abandono do tratamento. Outro aspecto citado foi a má utilização do tempo livre e as atividades de lazer que favoreceram a aproximação com as drogas. A droga esteve relacionada como um escape dos conflitos e próprios sentimentos. Quanto ao tratamento especializado, muitos adolescentes o iniciaram por encaminhamentos, seja judicial ou pela família. Dentre os fatores favoráveis a permanência ao tratamento esteve a rede de relações sem usuários de drogas, a participação familiar, a \"força de vontade\" e a relação com equipe profissional do tratamento. Os fatores que predispuseram ao abandono do tratamento foram a acessibilidade à droga, a inadequação dos tratamentos, a rede de amigos, a ausência de apoio familiar e o não querer parar o uso de drogas. Os adolescentes sugeriram que um tratamento atrativo e efetivo deve dispor de uma equipe profissional adequada para trabalhar com esse público, propor atividades que despertem o interesse e os motivem, e estar atento às demandas destes sujeitos às noites e finais de semana, quando o uso mais intenso de drogas ocorre. Conclui-se que os achados deste estudo podem contribuir na elaboração de propostas de intervenções terapêuticas direcionadas a adolescentes usuários de drogas, favorecendo sua adesão ao tratamento