Acidentes de transito : uma visão a partir das vitimas em Campinas
por OLIVEIRA, Patricia Conceição Pires de em
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O presente trabalho tem como objetivo trazer à tona o aspecto subjetivo do Acidente de Trânsito, baseado em análise qualitativa de acidentados. Pretende, mais especificamente, detectar o perfil sócio-econômico-demográfico (idade, sexo, profissão, local de residência, etc.) do acidentado; focalizar as circunstâncias físicas e psicológicas intervenientes no acidente e as conseqüências que o mesmo representa para o acidentado e suas famílias e analisar as representações sociais dos envolvidos no acidente, tendo em vista o seu significado diante de suas circunstâncias sociais e psicológicas. Pretende também focalizar o problema do AT através do conhecimento de técnicos da Secretaria do Transporte do Município de Campinas, com o propósito não só de dimensionar o problema como também encontrar posturas e obstáculos ao seu controle. O primeiro instrumento utilizado foi um roteiro de entrevista semi-estruturado aplicado a vítimas de AT, internadas em um Hospital Público de Campinas no ano de 1999. Pelo critério de saturação, foram entrevistados 20 pacientes, 15 do sexo masculino e 5 do sexo feminino, com idade acima de 18 anos. O segundo instrumento utilizado foi um roteiro de entrevista semi-estruturada aplicado a técnicos da Secretaria do Transporte de Campinas, incluindo o Secretário da gestão atual e anterior, no mesmo ano. Pelo mesmo critério, foram entrevistados 7 desses técnicos. Tanto as entrevistas com os técnicos como com as vítimas tiveram duração de 2 a 3 horas, foram gravadas e posteriormente transcritas. A análise dos dados revelou que os acidentes de trânsito estão intrinsecamente relacionados com a imprudência (não uso de equipamentos de segurança como capacete e cinto de segurança, consumo de drogas principalmente o álcool e excesso de velocidade); com o Stress e, principalmente, com a condição de juventude do sexo masculino (destaque para o grupo de condutores de motocicleta). Também foi possível verificar que, com a exceção das mortes entre condutores e ocupantes de motocicleta que triplicou nos anos de 1997 e 1998, houve, desde a municipalização do trânsito em Campinas (1992), uma queda significativa no índice total de mortes ocorridas no trânsito, queda esta atribuída a um conjunto de ações voltadas à segurança de pedestres e motoristas desenvolvida pela Secretaria dos Transportes. Dentre essas ações, destaca-se o Programa de Ensino de Trânsito nas Escolas (PETE), que faz parte do Programa de Educação e Segurança no Trânsito, cujo objetivo é promover uma mudança comportamental na população, pedestre ou motorista, conscientizando-a a adotar a segurança no trânsito como valor pessoal e prioritário. Concluímos que tanto os Acidentes de Trânsito como as representações sociais de sua ocorrência, variam significativamente conforme a idade, o sexo, a personalidade e a cultura dos indivíduos envolvidos. Sugerimos, em um nível mais abrangente, que a solução do problema de trânsito requer, sobretudo, a implementação de políticas públicas que levem em conta a dimensão cultural e enfatizem a educação para o trânsito.