Procura de tratamento por dependentes de substancias psicoativas : um estudo clinico qualitativo
por FONTANELLA, Bruno Jose Barcellos em
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INTRODUÇÃO. O conhecimento das motivações e barreiras para a procura de tratamento por dependentes de substâncias psicoativas tem importantes implicações clínicas e na saúde pública. O problema formulado foi: o que leva alguns deles a procurarem tratamento formal, sob suas próprias óticas? O objetivo geral foi conhecer como vivenciam o processo de natureza psíquica e. os fatores de ordem sociofamiliar envolvidos na procura por assistência formal (isto é, por clínicos), a partir de uma amostra que efetivou a procura de assistência. MÉTODO E PROCEDIMENTOS. Utilizei o método denominado clínico-qualitativo. Trata-se de uma pesquisa exploratória, sintética, não comparativa, de casos múltiplos, que utilizou referenciais do método clínico e do método qualitativo em geral. Elementos de uma amostra intencional (fechada por saturação e variedade de tipos) de treze dependentes de substâncias psicoativas em início de tratamento foram entrevistados individualmente e de maneira semidirigida. O material transcrito foi categorizado e submetido a uma análise de conteúdo qualitativa. RESULTADOS E DISCUSSÃO. Obtive dos entrevistados referências manifestas e verbalizações a partir das quais inferi as categorias correspondentes aos objetivos propostos. Observei a atribuição de significados próprios às variáveis relacionadas à procura de tratamento, significados que foram discutidos e que revelaram compreensão aparentemente idiossincrática da amostra frente aos temas a eles sugeridos e aos problemas que vivenciam quanto ao seu quadro clínico. A análise de conteúdo qualitativa resultou na formulação de dezoito categorias (algumas contendo subcategorias) assim agrupáveis: 1. motivações para tratamento advindas de fenômenos relacionados ao psiquismo dos entrevistados; 2. motivações advindas da percepção de fenômenos sociofamiliares; 3. barreiras subjetivas à procura de tratamento mais precoce e 4. fatores de facilitação para a procura de tratamento formal. Foram discutidas a partir de conceituações do modelo transteórico, do modelo de crenças em saúde, da psicologia médica e da metapsicologia psicanalítica. CONCLUSÕES. Os objetivos da pesquisa foram considerados alcançados, tendo o método se mostrado adequado à exploração do objeto de estudo e dos objetivos do trabalho. As categorias formuladas implicam em: 1. os clínicos e os serviços de saúde poderem utiliza-las como ferramentas adicionais no manejo inicial do tratamento desta população; 2. serem utilizáveis no marketing institucional destes serviços, podendo fomentar a procura de tratamento pela subpopulação oculta que a eles não recorre; 3. algumas delas representam variáveis a serem estudadas em trabalhos quantitativos, tendo esta pesquisa procurado contribuir para a validade conceitual e operacional de futuros instrumentos aplicáveis à população brasileira; 4. trazem à tona elementos passíveis de serem aprofundados em novos estudos clínico-qualitativos ou com outras metodologias qualitativas, como a psicanalítica. As limitações da pesquisa são apontadas.