O recurso à droga nas psicoses: entre o objeto e significante
por MARTINS, Viviane Tinoco em
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A presente tese tem como objetivo investigar a articulação entre a clínica das psicoses e o
consumo de drogas. Com base em um percurso que articula teoria e clínica, elaboramos uma
hipótese central que norteia nossa pesquisa calcada na adoção da terminologia recurso à droga,
cuja etimologia remete à idéia de uma tentativa de apaziguamento de dificuldades, que, em
nosso trabalho, corresponde à tentativa de dar uma solução aos efeitos da foraclusão do Nomedo-
Pai. Ao formularmos nossa hipótese, tivemos o cuidado de introduzir a noção de tentativa de
solução para apontar que este recurso não é absoluto e pode apresentar fragilidades. Reconhecer
essa fragilidade permite que nos afastemos da interpretação de alguns autores, que reconhecem
que o uso de drogas pode operar, em alguns casos, como uma suplência à foraclusão do Nomedo-
Pai. Nossa tese é fundamentada pelo ensino de Lacan, com ênfase em suas contribuições
provenientes sobre o conceito de significante e a noção de Verwerfung, passando pelos avanços
decorrentes da conceituação do objeto a, cuja conseqüência foi a pluralização dos Nomes do
Pai, e da introdução da topologia dos nós, que lhe permitiu re-articular a noção de suplência na
década de 70. Ao longo desta trajetória, também nos apoiamos na obra de Freud, tomando como
bússola a articulação de Lacan dos textos freudianos. Nossa hipótese central desemboca em
mais duas hipóteses sobre o estatuto de droga: (1) a oscilação entre objeto e significante, e (2)
que o seu consumo comporta alguns modos de operação na dinâmica psíquica das psicoses.
Assim, identificamos dois modos de operação da droga: o primeiro corresponde à irrupção de
um gozo ilimitado, que pode comparecer nas psicoses já desencadeadas e participar da cena
dramática do desencadeamento desempenhando um papel coadjuvante. A relação entre droga e
gozo apresenta um paradoxo: para alguns casos, o seu consumo opera liberando um gozo
excessivo e, em outros, permite uma moderação do gozo. O segundo modo de operação da
droga corresponde às tentativas de estabilização e correspondem a cinco modalidades: a
moderação de gozo, a passagem ao ato, a compensação imaginária, o delírio e a escrita, que se
articulam com o recurso à droga de acordo com a singularidade de casos clínicos que serão
apresentados. Empreendemos uma articulação entre os modos de operação da droga e seu duplo
estatuto de objeto e significante. Quanto à dimensão da escrita, a partir do estudo de um caso
clínico encontramos um novo estatuto da droga, a saber, de letra, que condensa o gozo,
depositando-o nas palavras escritas.