O corpo na toxicomania: uma primazia da sensação?
por ARTEIRO, Isabela Lemos em
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O presente estudo tem por objetivo interrogar se o que está em questão na toxicomania é uma primazia da sensação, uma busca excessiva por experimentar um plano que arranca o sujeito do campo da representação, do pensamento e da palavra, mantendo-o em um nível energizado e potencializado. Investigamos o funcionamento psíquico do toxicômano a luz da Psicanálise Freudiana e de alguns de seus comentadores, como Hanns e Garcia-Roza. Trata-se de uma pesquisa psicanalítica e, nesse sentido, parte de questões emergentes da clínica em um primeiro momento. Seguidamente, nos dedicamos ao trabalho de campo, a fim de submeter à comprovação as hipóteses elaboradas no projeto de pesquisa. Para a realização da coleta de dados, foram visitadas duas instituições especializadas em atendimento para dependentes químicos, nas quais realizamos 23 entrevistas com residentes que se dispuseram, livremente, a contribuir com o estudo. Aos entrevistados foi disponibilizado um espaço de fala livre, onde puderam descrever o que vivenciaram no plano sensorial ao usar drogas. Evidenciamos que na toxicomania há um silenciamento das simbolizações, na qual a droga responde ao ímpeto do sujeito pela excitabilidade – estimulação pura. Trabalhamos, então, no espaço próprio da pulsão, ou seja, no limite entre o psíquico e o somático. Além disso, consideramos que a imprevisibilidade dos movimentos pulsionais nos coloca diante de uma gama, cada vez maior, de repertórios clínicos segundo os quais nossos referenciais teóricos clássicos parecem não dar conta. Portanto, dedicamos um espaço para repensar os aparatos técnicos que os psicanalistas dispõem para manejar com a clínica em questão. Face à necessidade de buscar novas estratégias terapêuticas que não privilegie a nomeação dos sintomas, sustentadas em um formato subjetivo dado a priori, propomos um fazer clínico onde a escuta não se restrinja ao campo da palavra, mas que o psicanalista possa apreender sensações e experiências. O estudo empreendido sobre a clínica da toxicomania parte do modelo clássico da psicanálise e recebe significativas contribuições de Olievenstein.