Projeto de Monografia
Tema: As potencialidades do computador portátil para a inclusão digital nas escolas: Programa um computador por aluno.
Resumo
No contexto atual temos evidenciado várias iniciativas do governo federal para a promoção da inclusão digital nas escolas. No entanto, percebemos que essas ações não estão sendo suficientes para a plena vivência da cultura digital dos sujeitos. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) estão sendo usadas para manter o tradicionalismo na educação, sendo usadas de forma instrumentalizada ao invés de serem utilizadas como elementos estruturantes para as práticas pedagógicas. Atualmente o governo federal lançou o Programa Um Computador por Aluno (UCA), que vem sendo desenvolvido desde 2005, e que investiga a possibilidade de adoção de laptops com softwares livres para o uso de crianças e jovens do Ensino Fundamental e Médio, como forma de elevar a qualidade da educação pública. Nesse sentido, surgem algumas inquietações oriundas do uso que os professores e alunos fazem do computador portátil e das potencialidades dessa máquina para a inclusão digital nas escolas. Partindo dessa realidade, é que buscaremos desenvolver esse estudo monográfico. O tema desse trabalho foi escolhido a partir dos estudos realizados, durante a Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) "Inclusão Digital na Escola: as políticas do MEC", financiada pelo CNPq e orientada pela professora Maria Helena Silveira Bonilla. Ao longo dos estudos nos aproximamos do significado do termo inclusão digital, bem como do computador portátil como um possível elemento para essa finalidade. A partir daí foram surgindo indagações e questionamentos que nos levaram a dar continuidade aos estudos relacionados a essa pesquisa. Os questionamentos que nortearão esse estudo são: Quais as possibilidades que o Programa Um Computador por Aluno traz para a formação crítica, autônoma e participativa dos envolvidos nesse projeto, em especial para as crianças e jovens em idade escolar? Qual a concepção de inclusão digital que permeia o Programa UCA? Que tipo de uso os alunos fazem do computador portátil? Quais as mudanças ocorridas na rotina, nas concepções e na forma de organização do trabalho pedagógico dos alunos? Quais os significados, valores e práticas sociais são compartilhados a respeito das TIC? Como os professores articulam os conteúdos pedagógicos com a cultura digital? Qual a abertura que os professores concedem para a vivência plena da cultura digital nas escolas?
Diante desse contexto, informamos que os objetivos que norteiam essa pesquisa tratam de: Analisar a concepção de inclusão digital do Programa Um Computador por Aluno; compreender os limites e potencialidades das dinâmicas do UCA para inclusão digital; identificar as vivências, práticas e ações que estão sendo desenvolvidas e que fazem parte do Pré- Piloto do UCA; analisar os softwares, tempos e espaços que o aluno está de posse do computador portátil, bem como a mobilidade da máquina e conexão disponibilizada pelo projeto. O caminho metodológico dessa pesquisa partirá de um estudo de revisão bibliográfica e coleta de materiais sobre o programa, disponíveis na internet. Em seguida avançaremos num estudo de caso tendo como proposta empírica o Programa um Computador por Aluno (UCA). Também realizaremos entrevistas semi-estruturadas com pesquisadores e professores envolvidos no projeto, a fim de obtermos um melhor entendimento das dinâmicas articuladas a ele.
Introdução
No atual contexto social, percebemos que as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) estão provocando profundas transformações em todas as dimensões da nossa vida. Essas tecnologias possibilitam aos indivíduos novas formas de se relacionar com o mundo, de se comunicar, de pensar, de aprender, de partilhar informações e construir conhecimento. No entanto, faz-se necessário que os sujeitos se apropriem das TIC para dar-lhes novos significados e sentidos. De acordo com Kenski (2003), a evolução das tecnologias não se restringe aos novos usos de equipamentos e/ou produtos, mas aos comportamentos dos indivíduos que interferem, repercutem na sociedade, intermediados, ou não, pelos equipamentos.
Diante disso, percebe-se que ao mesmo tempo em que as TIC proporcionam o acesso sobre variadas fontes de informações, elas exigem que os indivíduos tenham habilidade e conhecimentos para usá-las.
Assim, evidenciamos alguns projetos e programas do governo que buscam levar o acesso das TIC às classes menos favorecidas. Essas iniciativas se constituem em Políticas Públicas e visam à inclusão digital dos envolvidos.
Ao tratarmos do termo inclusão digital, percebemos que o mesmo está enredado em vários conceitos e significados, tanto pelos envolvidos do processo, quanto pelas ações que se relacionam a ele. Para Costa (2004)
o termo “inclusão digital” pode abarcar uma série de significados, seguindo dos estudos na área da psicologia (como o “e-nóia” – a inclusão dos que se sentem bloqueados, mas têm renda para o acesso e aprendizado) até os estudos nas áreas sociais. Em linhas
gerais entende-se inclusão digital como uma forma de apoio aos cidadãos numa nova perspectiva, a do cidadão de uma cidade na era da informação – de uma cibercidade. Essa inclusão deve ser de forma integral na vida deste cidadão, buscando preferencialmente as
populações que têm menores condições sócio-econômicas. A inserção digital não deve ser apenas uma capacitação num determinado software, e sim um processo amplo, levando em consideração questões mais importantes socialmente. O acesso apenas não basta, um computador pessoal não basta, a Internet – por si só, não basta. Deve haver projetos de inserção levando-se em conta a capacitação e a apropriação dos meios. (COSTA, 2004, p. 2-3).
Nos últimos anos o termo “inclusão digital” tornou-se algo freqüente em empresas, políticas governamentais e na sociedade civil. São muitas as estratégias que buscam promover o acesso das classes menos favorecidas às Tecnologias da Informação e da Comunicação. Para Barros (2003), a democratização do conhecimento, o principal elemento da ‘sociedade da informação’, constitui uma forma de combate às desigualdades sociais.
No que tange a “sociedade da informação”, é importante pontuarmos que o termo “inclusão digital”, aqui no Brasil, emergiu a partir dos Programas da Sociedade da Informação. O que regulamentou a inserção do Brasil nesse contexto foi o lançamento em 2000 do Programa Sociedade da Informação (
SocInfo? ), conhecido também como Livro Verde. Segundo Carvalho (2006), esse livro
O Livro Verde é um documento que reúne as diretrizes do Programa Sociedade da Informação com o intuito de acelerar, fomentar e pensar a “Sociedade da Informação”. Sua coordenação esteve a cargo do Ministério da Ciência e Tecnologia e a sua elaboração e implantação foi realizada por representantes do governo, acadêmicos, empresários, lideranças comunitárias entre outros profissionais. O objetivo do Livro Verde é promover a inclusão digital das classes menos favorecidas através das TIC.
Nesse contexto, diante de um universo marcado pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação, é importante destacar o desafio do uso de tais tecnologias nas escolas. È de fundamental importância a compreensão dessas tecnologias desde a sua construção até as suas diversas potencialidades, sendo a escola uma instituição historicamente reconhecida como a “principal propulsora do conhecimento”, cabe a ela proporcionar aos alunos meios para que estes transformem as informações adquiridas em conhecimentos. O Livro Verde do Programa Sociedade da Informação no Brasil reforça essa questão:
Na nova economia não basta dispor de uma infra-estrutura moderna de comunicação; é preciso competência para transformar informação em conhecimento. É a educação o elemento-chave para a construção de uma sociedade da informação e condição essencial para que as pessoas e organizações estejam aptas a lidar com o novo, a criar e, assim, a garantir seu espaço de liberdade e autonomia (BRASIL, 2000, p.7).
Para que os educandos tenham acesso à construção do conhecimento a partir das Tecnologias da Informação e da Comunicação, é importante a criação de meios que incentivem a aprendizagem partindo do interesse de cada um e ao mesmo tempo viabilizando a aprendizagem coletiva. De acordo com Lévy (1993), com o surgimento das TIC, é possível criar um novo e amplo espaço de possibilidades para a Educação. Nesse sentido, para que aja uma melhor articulação das escolas com as TIC, faz-se necessário transformar o sistema escolar. A introdução de computadores nas escolas possibilita mudanças significativas no âmbito educacional. O uso desses aparelhos no processo ensino-aprendizagem favorece a exploração ilimitada de ações pedagógicas, permitindo uma grande diversidade de atividades que alunos e professores podem realizar. Porém, a “incorporação” de computadores na sala de aula vai muito, além disso. A utilização dessas máquinas na escola favorece a criação de redes individuais de significados, inteligência coletiva, produção colaborativa, interação, comunidades virtuais, além de possibilitar o desenvolvimento humano, social, cultural e educacional do indivíduo.
É nesse contexto que surge o Programa Um Computador por Aluno (UCA). O referido programa é uma iniciativa do Governo Federal que busca incluir digitalmente crianças e jovens em idade escolar, do Ensino Fundamental e Médio, contemplando cada aluno com um computador portátil.
A experiência com o UCA vem sendo desenvolvida desde 2005, mas ainda encontra-se na fase pré-piloto. O projeto conta com o apoio de sete Ministérios, três centros de pesquisa, universidades de várias partes do Brasil e com um grupo de trabalho do Ministério da Educação que se divide entre os responsáveis por assessorar pedagogicamente e elaborar um documento básico sobre o programa, e assessores pedagógicos que possuem o dever de acompanhar e avaliar as experiências dos pilotos implantadas nas escolas.
De acordo com Lacerda (2007), o UCA está com projetos pilotos em cinco escolas de quatro estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Tocantins e no Distrito Federal - Brasília. Foram distribuídos três modelos de laptops, mas cada escola recebeu apenas um modelo: Classmate Intel, XO - OLPC (One Laptop Per Child) ou Móbilis Encore. Ainda, segundo Lacerda (2007), o conceito de inclusão digital que permeia o projeto é o de permitir a cada aluno de escolas públicas o acesso ao uso das tecnologias através de laptops, possibilitando o uso pela família de cada aluno e também o acesso a serviços do governo eletrônico disponíveis on line. Porém, sabemos que o conceito de inclusão digital vai muito além disso. É necessário que deixemos claro que o conceito de inclusão digital ultrapassa esse conceito limitante.
Analisando a metodologia do programa, percebemos que ela é realizada de forma diferenciada entre as escolas participantes. Mas o que nos chama a atenção é a forma de como o computador portátil vem sendo empregado em algumas atividades pedagógicas dentro das salas de aulas. O que vemos é o uso da máquina apenas como ferramenta, numa perspectiva tecnicista, sem explorar as reais potencialidades dos computadores. Como exemplo disso, podemos destacar a atividade realizada pela professora Tânia de Castro Oliveira, da 4ª série, da Escola Luciana de Abreu (RS). De acordo com Araújo (2008), os alunos dessa professora desenharam o sistema solar e o novo astro, utilizando conhecimentos de Arte e Geometria, pesquisaram a composição de gases do Sol, da Lua e de alguns planetas em Ciências e simularam quanto seria gasto para levar alguns equipamentos básicos de sobrevivência para lá. Para Pretto (1999), o professor enxerga o computador como mais um recurso pedagógico, que vai auxiliá-lo nas suas aulas, é usá-lo apenas de forma instrumental. Daí surgem algumas inquietações oriundas do uso que os professores e alunos fazem dessa máquina e das potencialidades do computador portátil para a inclusão digital nas escolas.
È partindo dessa realidade, que buscamos desenvolver esse estudo monográfico. O tema desse trabalho foi escolhido a partir dos estudos realizados, durante a Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) “Inclusão Digital na Escola: as políticas do MEC”, financiada pelo CNPq e orientada pela professora Maria Helena Silveira Bonilla. Ao longo dos estudos relacionados à temática de inclusão digital, onde estudamos a sua concepção e o computador portátil como um possível elemento para essa finalidade, foram surgindo indagações e questionamentos que nos levaram a dar continuidade aos estudos relacionados a essa pesquisa.
É importante ressaltar que a minha vivência enquanto membro do Grupo de Pesquisa em Educação, Comunicação e Tecnologia – GEC contribuiu bastante para o enriquecimento da minha formação, com as discussões realizadas em torno das TIC, o que possibilitou o intercâmbio de conhecimentos com outros integrantes do grupo.
Em vista disso, os questionamentos que nortearam esse estudo foram: Quais as possibilidades que o Programa Um Computador por Aluno traz para a formação crítica, autônoma e participativa dos envolvidos nesse projeto, em especial para as crianças e jovens em idade escolar? Qual a concepção de inclusão digital que permeia o Programa UCA? Que tipo de uso os alunos fazem do computador portátil? Quais as mudanças ocorridas na rotina, nas concepções e na forma de organização do trabalho pedagógico dos alunos? Quais os significados, valores e práticas sociais são compartilhados a respeito das TIC? Como os professores articulam os conteúdos pedagógicos com a cultura digital? Qual a abertura que os professores concedem para a vivência plena da cultura digital nas escolas?
Diante desse contexto, informamos que os objetivos que norteiam essa pesquisa tratam de: Analisar a concepção de inclusão digital do Programa Um Computador por Aluno; compreender os limites e potencialidades das dinâmicas do UCA para inclusão digital; identificar as vivências, práticas e ações que estão sendo desenvolvidas e que fazem parte do Pré- Piloto do UCA; analisar os softwares, tempos e espaços que o aluno está de posse do computador portátil, bem como a mobilidade da máquina e conexão disponibilizada pelo projeto.
Esse estudo monográfico ocorre dentro da perspectiva da abordagem qualitativa, por considerarmos, de acordo com Richardson (1989), que a mesma possibilita a compreensão do mundo pesquisado, aumentando as possibilidades de captação mais intensa dos fenômenos e suas transformações, dentro do processo social. Este tipo de abordagem é utilizada pelos pesquisadores “para explorar o comportamento, as perspectivas e as experiências das pessoas por eles estudadas” (SOUZA; ALMEIDA; ANTUNES. 2009, P. 1).
O caminho metodológico dessa pesquisa partiu de um estudo de revisão bibliográfica e avançou em um Estudo de Caso tendo como proposta empírica o Programa Um Computador por Aluno (UCA). Optamos pelo Estudo de Caso por entender que este método “supõe que se pode adquirir conhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de um único caso” (GOLDENGERG, 2001, p.33). Segundo Goldenberg,
o Estudo de Caso reúne o maior número de informações detalhadas, (...) com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida pela análise estatística (GOLDENGERG, 2001, p. 33-34).
Nesse sentido, podemos afirmar que esse método, nos possibilitou compreender a vivência do Programa Um Computador por aluno, assim como as dinâmicas desenvolvidas no projeto Pré-Piloto.
Vale ressaltar também, que foram realizadas entrevistas no intuito de coletar dados sobre as questões desse estudo e fundamentar as informações levantadas.
Portanto, para a realização desse trabalho demos continuidade aos estudos realizados durante a Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC), com base na coleta de documentos e entrevistas pela internet relacionada à pesquisa estudada. Em seguida relacionamos o referencial teórico e as análises realizadas sobre o Programa Um Computador por Aluno.
É importante dizer, que além desses dados, utilizamos entrevistas livres e exploratórias com as pessoas envolvidas no projeto pré-piloto do UCA (membros do Grupo de Trabalho, coordenadores das escolas e professores) como fonte de informação para a pesquisa.